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segunda-feira, 26 de março de 2012

O amante é sempre o último a saber


Um romance diferente, que não parece um romance, ou talvez pareça. Um relato bem combinado que prende o leitor do princípio ao fim. A mim, prendeu-me forte e, desejosa de perceber onde culminava uma ida tão improvável, de Portugal ao Japão, de duas pessoas tão improváveis, em estatuto, em classe social, em modus operandi, numa incessante procura da razão, do oculto, do quase certo mas ainda desconhecido, duas pessoas tão distintas e aparentemente tão distantes mas, ao mesmo tempo muito próximas, do grande motivo, o motivo principal. Um filho perdido, uma mãe que só se apercebeu tarde do que é o amor de mãe e um mestre de artes marciais de origem japonesa mas há muitos anos fora do seu país natal onde é literalmente forçado a regressar em busca do filho desaparecido, do discípulo de quem fora conselheiro. Um enredo de mistério, acção, subjugação, penação, objecção e derradeira união.




O título do livro é completamente enganador. Sugere uma banal história de amor, traição e seus "derivados" quando na verdade é de um amor diferente que se trata, um amor que se encontra quando duas pessoas desencontradas na vida, se aproximam e se tornam especiais uma para a outra.

(...)
Yukio para Bernardo:
“Nadu, lembras-te de algum sonho de quando eras pequeno?”
“Porque me estás a perguntar isso?”
“Os amigos não podem fazer perguntas destas?”
“Acho que sim.”
“Então…”
“Lembro-me de um.”
“Não queres contar, Nadu?”
“Era estranho. Eu devia ter para aí uns cinco ou seis anos.”
“Óptima idade para ter sonhos maus.”
“Desculpa?”
“Nada, Nadu, estava a falar comigo mesmo.”
“Eu…”
“Continua, por favor.”
“Eu brincava no escritório da minha mãe com um carrinho, em cima do tapete. Era como um quadro. O quarto, eu sentado a brincar, com o carrinho.”
“Só isso?”
“E estava muito sereno. Depois, sem pré-aviso, alguém começava a riscar o quadro, com força. Como um enxame negro avançando do canto para o centro do quadro.”
“E como sabias tu isso?”
“Esse é que era o problema. Eu era dois. Eu era o menino a brincar, sem se dar conta do perigo iminente. E eu era também a pessoa que estava de fora, a assistir, sem poder fazer nada, à tragédia anunciada.”
“Tragédia?”
“Porque dentro em pouco o quadro estaria todo riscado. Não haveria mais quarto, apenas um enxame violento, mecânico, que cobriria tudo.”
“Percebo.”
“A minha angústia era essa. Mesmo já com metade do quadro a negro, o enxame ou o lápis a chegarem já aos meus tornozelos, eu continuava a não me dar conta de nada. Impávido e sereno.”
“O horror à tua volta…”
“E eu impávido e sereno.”
(...)    
Foi o primeiro livro que li de Rui Zink. No princípio achei um bocado enfadonha a sua forma de escrever, tal como acho que ele se torna a maioria das vezes no falar. É uma escrita cheia de repetições de palavras, termos, frases completas... demasiadas redundâncias. Mas valeu pelo enredo.

Gostei Muito e recomendo!

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