Passado um bom bocado, já mais de meia manhã, entrou o Senhor Verão. Não o vi chegar. Ou será que aquela chuva que caía lá fora e que não ajudava nada a despertar-me os movimentos ainda lentos de uma manhã de sábado arrastada, molenga e que teimava em não me despertar do sono, era ele a anunciar a sua chegada?
Debruçada sobre o parapeito da janela, atirando migalhas e outras sementes aos passaritos da rua, dou de caras com o sol. Tímido, mas a esboçar lentamente, um sorriso rasgado por entre pingos grossos. Eu ali, a olhar para ele toda desgrenhada, e de olhos remelados da noite de sono dormida à pressa e da preguiça matinal que me enlaçava. Ele estava envergonhado e eu também. Pedi-lhe desculpa pelo meu propósito, que não se recebe assim uma entidade tão distinta. Ele, alargou ainda mais o sorriso e fez-me crer que não, que não tinha que me preocupar com isso. Sorri-lhe de volta e à minha expressão, ele justifica-se do seu acanhamento. Diz-me que vem carregado, com muita bagagem para a sua estadia e que a viagem tinha sido longa e algo conturbada. E notava-se que sim, que era verdade. Sacudiu mais uns pingos, e murmurou:
- Não imaginas o que suei para aqui chegar...
- Uh! Esses pingos são o teu suor? Tudo isso promete aquilo que eu tanto gosto, o calor?
Ofereci-lhe uma toalha de linho branco imaculado para se limpar. Ele agradeceu e colocou-a debaixo do braço.
- Vou tomar uma grande banho e já volto!
Não fui a tempo de lhe estender o sabonete, desatou a chover torrencialmente...
Grande banhoca a do Senhor Verão! Há-de apresentar-se todo bonito e bem cheiroso! Assim o espero...
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