... pelas montras da cidade de Leiria!
Não sei se já vos disse, mas não vou nada à bola com carnavais. Não gosto! E com o S. Valentim? Uh! Também não!
Hoje saí à rua com um rol de voltas a dar. O dia sorriu-me, esteve alegre, sol e algum vento fresco a roçar-me as faces e a despentear-me a gadelha. Andei a pé pela cidade, percorri avenidas, ruas e ruelas. Entrei aqui, saí ali, andei mais uns metros e foi mais um entrar e sair dos mais diversos locais onde tive que me dirigir. Dei conta do recado todo que me fez sair da Tasca e, com as gavetas da caixa dos pirolitos todas arrumadas e fechadas direccionei as minhas ricas antenas para tudo o que me rodeava. Apreciei a garotada de mochilas às costas, faces rosadas e muitas gargalhadas. As senhoras de meia idade com os sacos de compras nas mãos e o cachecol a cair pescoço abaixo, outras que há muito não se cruzavam e em conversas desenfreadas nem notavam a minha passagem!
- Ah! Qual figura imponente que não pára o trânsito nem chama a atenção da gente! - dizia eu baixinho ao fecho éclair do meu agasalho.
Mais à frente, nos bancos de jardim, poisavam eles de samarra quentinha, chapéu na cabeça e luvas que protegiam os dedos enrugados do frio e da idade, as mãos de quem tem uma longa história de vida, de trabalho, de conquistas e inevitáveis perdas, de mais ou menos saúde... e riam, riam com prazer olhando a malta jovem que corria sem destino. Outros, remetidos ao silêncio, observavam, relembrando os tempos em que em vez de passearem de mochila às costas, carregavam ferramentas de trabalho duro...
- Hummm! Se eles soubessem... que não lhes sou indiferente! Passo discretamente mas penso nas vidas daquela gente! - o meu fecho éclair ouve-me e pisca-me o olho em sinal confidente...
Alheei-me dos transeuntes e quase fiquei com dores pescóceas... Olhei para a esquerda e para a direita, insisti para a direita e voltei-me para a esquerda, reparei nas montras do comércio e quase fiquei enjoada com as vistas... ele eram coraçõezinhos e predicados lamechas, disfarces carnavalescos e acessórios pirosos... por tudo quanto eram lojas!
- Oh! Mas o que é isto? - perguntei ao meu confidente que me devolveu um sorriso amarelecido como resposta.
- O que é isto? Estarei a ver bem? - fiquei confusa e insisti na questão.
- Cenourita! Acorda! É o Carnaval à porta e o dia de S. Valentim! - respondeu-me impaciente.
- Carnaval? S. Valentim? - indaguei ainda baralhada.
- Sim! Máscaras, diversão, amor e celebração! - argumentava com convicção.
- Máscaras, eu dispenso! Diversão, é quando eu quiser! Amor, é todos os dias e celebração é sempre que apetecer!
- Ó Cenourita do meu coração...
- Vá! Vá lá... deixa-te tu de esquisitices...
- Amolece o coração e participa nas traquinices!
- Mole é o meu coração e malandrices... sempre que haja disposição!
Depois de um final de tarde a tropeçar em carnavalices e lamechices... cheguei à Tasca com a sensação de que em pouco tempo tinha comemorado ambos os eventos anuais, por isso... se nos próximos dias acontecer por aqui alguma "cena" a propósito destas comemorações, fica desde já a advertência de que a iniciativa só poderá ter partido de outrém! ;)