... e, de duas baratas tontas!
A barata tonta mais velha, acorda, dá meia volta e tenta a todo o custo retomar o sonho interrompido. A barata tonta mais nova, acorda, levanta-se, faz uma xinfrineira do catano que até os gatos se assustam e a Miss Piu desata num berreiro e trepa grades acima da sua casinha na ânsia de que lhe abram a porta. A noite havia sido mal dormida, preocupações a latejar na cabeça de uma barata tonta, ansiedades aos pulos na cabeça da outra barata tonta. E, os bichinhos da tasca, taditos, sem culpa nenhuma... até eles andavam tontos.
- Titó! Pah! Tem calma! - a barata tonta mais velha a espumar pela boca.
- Mãe Bela! Pah! Qual calma? - a barata tonta mais nova impaciente e a revirar os olhos.
Planos para sair porta fora, andar sem destino, queimar gasóleo, hidratar as vistas e tentar dar sumiço às lagartas que se instalaram nestas duas mentes, completamente tontas!
Depois de um elevado número de tarefas a cumprir, lá saem elas, armadas em turistas, de chinelo no pé e óculos escuros nas trombas. Quais gajas boas vistas do lado de fora da latinha, e desmesuradamente tontas, do lado de dentro!
- Titó! Pah! Tem calma!
- Mãe Bela! Pah! Qual calma?
O disco mantinha-se riscado, não havia conversa, apenas preocupações e ansiedades.
- Por aqui? Ou por ali? - a barata tonta mais velha, indecisa.
- Por onde quiseres! Tanto faz... - a barata tonta mais nova, alheada.
A latinha adivinha-nos o pensamento e sózinha, com duas baratas tontas lá dentro, conduz-nos por caminhos até chegar ao mar. As conversas não faziam sentido, apenas pequenos sons se atreviam a sair daquelas duas bocas, privados de qualquer raciocínio, cortados pelos pensamentos, abandonados ao destino de cada mente... completamente tonta!
- Vamos parar aqui!
- Para quê?
- Apreciar a paisagem!
- Não, não é preciso!
Num acto mecânico que só ela sabe, a latinha imobiliza-se com confiança. Abre-se a porta e impulsionada pela vontade de respirar aquela brisa com cheiro a mar, a barata tonta mais velha salta de máquina fotográfica em punho.
- Só paraste para tirar fotografias!
- Salta daí! Anda ver as ondas!
- Não m'apetece!
- Apetece-me a mim!
A latinha segue o seu caminho, com paragem aqui, ali e acolá. O assunto não muda, as palavras fracas, os suspiros carregados, as mentes... completamente tontas!
- Titó acorda!
- Uh! Onde estamos?
- Aqui!
- Onde fica isto?
A brisa do mar não parecia, de todo, conseguir nutrir aquelas duas mentes tontas. Não brotavam raios de luz nem relâmpagos de deslumbre. O assunto não mudava, as palavras quase mudas, os suspiros firmados, as mentes... completamente tontas!
- Está na hora de regressarmos!
- Estamos de regresso!
- Uh! Onde estamos?
- Aqui!
Não fosse a latinha, um verdadeiro e confiante veículo de transporte de baratas tontas, ainda hoje e a esta hora... andariam por aí, completamente perdidas, duas mentes... completamente tontas!
Seguiu-se outra noite, de loucos, de voltas e reviravoltas, de sonos ausentes, de preocupações e ansiedades constantes e presentes... nestas duas mentes irreversivelmente tontas. Os gatos sem sono, alterados no comportamento. A Miss Piu sem sono, irrequieta no poleiro. As duas baratas tontas saltam do leito e a tão desejada notícia é finalmente revelada...
- Yes! Yes! Yes!
- Yes! Yes! Yes!
- Mãe Bela! Pah!
- Titó! Pah!
- Acabei o curso!
- Acabaste o curso!
- Estou Licenciada!
- Estás Licenciada!
Gritos e risos, sons histéricos. Mudou o assunto. As palavras fizeram eco! Os gatos saltaram para cima da cama de cauda em riste! A Miss Piu gritou alto sons novos e desajeitados! As baratas tontas não cabiam em si de felicidade e alegria! E, mesmo assim, têm a sentença lida... continuarão tontas, cheias de preocupações e ansiedades, mas... especial e completamente tontas!