- Quê?!
Era domingo e desejava-se, tranquilo. A única coisa planeada era que se gozasse o dia conforme a vontade e se saboreasse o descanso consoante a necessidade, que era muita.
Não que estivesse muito frio, mas a lareira acendeu-se logo depois do acordar, ou melhor, não se chegou a apagar durante a noite e, foi só chegar-lhe uns raminhos secos e sobre eles a lenha mais grossa e logo aquela fogueira se ateou forte que nem paixão e, com a música a tocar baixinho, o ambiente estava perfeito para o propósito delineado.
Entre tarefas básicas diárias, brincadeiras com a família felina feliz e folheadelas de livros... a hora de almoço chegou num instante e foi avisada por um brusco roncar estomacal.
- Ehlah! Até me assustei!
Entro na cozinha. Abro despensa, frigo e congelador e, a esmo, disponho uma série de ingredientes em cima da bancada. Arregaço as mangas da camisola de pijama, coloco o avental e... toca o telefone.
- 'Tão? Mãe Bela! Q'andas a fazer?
Meia dúzia de dedos de conversa com o telefone entalado entre o ombro e a queixada e já com sinais de torcicolo no pescoço e, um vai vem entre panelas e fogão...
- Ah! 'Tás a cozinhar! E o que vai ser o teu almoço?
- Wok to Stay by Carrot!
- Quê?!
- Isso!
- Ah!... 'Tà bem...
Não percebeu! Ninguém perceberia! No fim de pronto, que foi bem rápido, mandei-lhe uma foto.
- Ahhhh! É isso!? Ca bom aspecto!
Esparguete salteado terra e mar
2 colheres de sopa de massa de alho e o fundo do wok bem regado de azeite. Numa caçarola, uma couve brócolo a cozer em água e uma pitada de sal. Couve cozida, escorrida e reservada e de seguida, esparguete a cozer naquele caldo, al dente, que depois também se escorre e reserva. Entretanto no wok, e já com o azeite quentinho e o alho a querer crepitar, atira-se lá para dentro com uma cenoura grande bem ralada, uma tigela de berbigão descascado e congelado e outra tigela de mexilhão também descascado e congelado. Tapa-se o wok e deixa-se suar por uns minutitos. Junta-se-lhes uns palitos, acho que foram seis, de delícias do mar cortados em rodelas grossas e logo vão os brócolos também. Mexe-se tudo com jeitinho e a ajuda da colher de pau e molha-se o dedo bem lavado naquele preparado e tenta-se a todo o custo que venha um berbigão agarrado. Vai-se outra vez com o dedo à "ferida" e agarra-se um mexilhão. Hummm... Mnhammm mnhammm mnhammm... A prova é satisfatória. Nem se vão usar as ervas que já estavam ali a jeito que o sabor estava óptimo. O esparguete cozido al dente junta-se ao festim e envolve-se delicadamente de modo a ser bem recebido. A música que toca abana o wok provocando um passo de dança profissional naquele grupo de baile amador e, vamos lá fazê-los suar todos mais um minuto ou dois com a tampa por cima. Diz que suar faz bem... Polegar e indicador, esses atrevidos de serviço, pescam um fio do esparguete e levam-no aos lábios, esses porteiros da gula, que o sugam sem dó nem piedade. Nem vai precisar do molho! Que é logo ali descartado, o desgraçado, danadinho para entrar na dança.
Perfeito!
Inspiração de uma cadeia de fast food dos shopping center e com os ingredientes disponíveis, é um prato por mim apreciado e que sai com alguma frequência, que é como quem diz, quando se quer algo rápido, prático, saboroso e saciante.
- Vais almoçar sózinha?
- Na! Eu nunca estou sózinha!
E do que é que eu mais gosto nos "meus" domingos, assim?! Ninguém perceber, apenas eu! E sentir-me bem!