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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vida e Obra da Abóbora Menina (ilustrada)


Prefácio

Veio de longe, de muito longe… ou talvez não de tão longe assim… afinal de longe, muitas vezes se faz perto!

No campo, foi criada, por entre muitas e diferentes culturas, nascida de uma semente e em terra fértil gerada, no meio de grandes folhas verdes desenvolvida. Cresceu desalmadamente e certo dia, à navalhada lhe foi cortada aquela veia que a prendia à mãe natureza tão amada.

Capitulo I
Partida com destino


A viagem decorreu sem qualquer precalço e, no destino a recepção foi de braços abertos para a receber.
Chegou espantosa, brilhando com todo o seu natural esplendor e chamando a atenção de quem a olhava, mesmo de soslaio, pensando no motivo que levara tão rechonchuda criatura a trocar assim aqueles ares puros, cheiros naturais e paisagens campestres por uma vida na cidade, fechada entre quatro paredes e apenas com a companhia de alguns vasos de plantas oriundas de uma estufa qualquer, uns bichinhos de quatro patas e seus donos tresloucados...
A simpatia e hospitalidade com que fora recebida fez com que de um momento para o outro se sentisse no seu habitat natural, depressa se adaptou ao dia-a-dia daquela gente, se integrou naquela família citadina de gostos rurais.

Capitulo II
Menina, seu nome


Acomodada num cantinho cheio de luz, aconchegado e privilegiado por ser a esplanada de inverno, junto a três irmãs da mesma espécie mas de raça distinta, a Menina depressa se ambientou e foi toda ouvidos para as Chilas que ficaram enciumadas com a nova residente. Poucas horas depois e com algum atrevimento, já as outras lhe chamavam de prima e desgarravam as suas ainda curtas e sinuosas vidas, qual delas a mais ousada, como gralhas e bimbas de alta sociedade. Pintaram-lhe um cenário de luxúria e poder, que apesar de não existir naquele local, fez com que ela se sentisse fragilizada e se mantivesse um pouco distante das outras, calada, atenta, observadora. A cada dia que passava afirmava-se com toda a notoriedade mas sem qualquer convicção, da sua beleza interior, do seu substracto, que às outras não passava de burrice e pura ignorância. Mas, é pela simplicidade que tudo tem mais valor, e a Menina ganhou tudo por isso mesmo.

Capítulo III
Confidente

Viveu meses naquele local, acarinhada por todos os residentes e apreciada pelos visitantes. Ouviu conversas, desabafos, choros e grandes gargalhadas, foi fiel confidente de todos os que naquelas cadeiras ao lado se sentavam e seus corações abriram, chorou com eles, sorriu, apreciou as mais variadas brincadeiras sempre com o respeito que cada um lhe conferiu. Presença assídua em festas, convívios e patuscadas e, até pousou em sessões fotográficas… De quando em vez pedia que a trocassem de sítio, ora mais para a esquerda, ora mais para a direita, mas sempre com a mesma perspectiva e campo de visão. Nunca nada lhe passava despercebido e estava sempre atenta a tudo o que a rodeava. Pela forma arredondada e sua cor de pele ligeiramente alaranjada, destacava-se sempre pelo meio de todo o verde que a rodeava. Manifestava frequentemente e com ligeireza o seu agrado por estar onde estava e pedia com toda a sinceridade:
- Quando sair daqui quero a todos proporcionar o melhor que eu puder dar!

Capítulo IV
Decisão

O tempo foi passando e lá se ía destinando a melhor forma de satisfazer a vontade da Menina. Ela sabia que a sua duração em perfeita saúde não era longa, mas mesmo assim aguentou e muito tempo, mais do que alguém pudesse esperar. Foram-lhe feitas várias propostas, afinal ela merecia escolher…
- Que tal, para uma sopa?
- Um puré?
- Congelador?
- Umas quaisquer misturadas?
Engelhava sempre o nariz, e…
- Desde que sirva de alimento… eu fico satisfeita, mas… quem me tem acompanhado nesta jornada merece mais, merece melhor…
- Mas mais e melhor, como Abóbora Menina?
- Gostaria de adoçar todas as vossas bocas…
- Adoçar? Estás a sugerir um doce?
- Sim! Sim! Bem docinho e de preferência com umas nozes! Acho que fica fantástico e todos vão adorar!
- Oh Aboborinha Menina… és mesmo um encanto! Será feita a tua vontade!

Capítulo V
Chegou a hora


Uns dias depois, tudo preparado para a confecção do doce que a Menina tanto pediu e que de todo foi do agrado de quem a acolheu. Em cima da bancada da cozinha estavam todos os instrumentos necessários, a tábua de cozinha, a faca, os pacotes de açúcar amarelo, o frasco da canela em pau, a taça com as nozes descascadas e partidas… tudo devidamente preparado para a confecção do seu desejo mor…

Capítulo VI
A receita


DOCE DE ABÓBORA COM NOZES


2,5 kg abóbora limpa de pevides e cascas e cortada em cubos
2,5 kg açúcar louro (amarelo)
3 paus de canela

Deitou-se a abóbora na panela, por cima o açúcar e os paus de canela. Envolveu-se tudo muito bem com a ajuda da colher de pau e deixou-se levantar fervura. O açúcar derreteu, a abóbora largou toda a sua humidade e um molhinho grosso e escurinho se formou. Foi-se mexendo de vez em quando e o lume esteve baixo durante muito tempo, cozendo o preparado, sem pressas, e mexendo… mexendo… mexendo. A colher de pau entrava frequentemente na panela, para que aquela gostosura não se pegasse no seu fundo e saía lânguida e forrada daquela mistura quase explosiva de doçura. O bico do fogão apagou-se, a panela repousou em cima da bancada protegida por uma base para quentes. Retiraram-se os paus de canela e a varinha mágica deu o toque final, triturou ligeiramente os cubos já meio desfeitos… juntaram-se as nozes partidas miudinhas e voltou ao lume por mais uns minutitos para que ficasse mais homogénea aquela mistura tão perfeita. Deixou-se arrefecer e frascos de vidro já esterilizados à espera de tão delicioso conteúdo!

CapítuloVII
A prova


Segui-se a prova de tão gracioso manjar, tostinhas e fatias de pão caseiro receberam aquela maravilha… barrada com delicadeza formando picos, pilhas, morros e montes…
Doce, doce mesmo, cremoso, aveludado e o sabor da noz a sobressair… simplesmente delicioso!


Epílogo

Para quem julgava que tão gracioso manjar se iria apenas provar e guardar para petiscar de vez em quando… puro engano… foi vê-los abrir e fechar, esgotar, abre mais um que este já acabou… outro, e… já não há? Não pode ser…
Simples, inteligente e humilde, o reinado desta Abóbora Menina na Tasca, deu-lhe conhecimento suficiente de como agradar e bem a todos os que a frequentam e dela usufruem!


Fim

13 comentários:

Abóbora Amarelinha disse...

Eu não sei o que está mais divino!
se o texto...se o doce!
Ou melhor!
Tu é um génio, quando for grande, quero ser como tu!!!
Depois deixo-te dar uma voltinha na minha lambreta...
beijo

K disse...

CONCORDO COM A ABOBORA, ESTÃO OS DOIS DIVINOS... COISA DE INSPIRAÇÃO BEIJO E BOM FINAL DE SEMANA

ameixa seca disse...

Palmas clap clap :)
Fantástico o texto e o doce!!!

Karla disse...

Oh minha linda Cenourinha....tens MESMO de escrever um livro....fabuloso....

beijinhos

Mónica Teodoro disse...

Que texto maravilhoso, já o doce nem se fala deve ter ficada melhor que uma maravilha.
Então a decoração tem tudo a ver com a tasca é só cenourinhas.
Beijinhos.

carlita disse...

como acertei devia ter direito a um frasquinho de doce e uns quadradinhos de abobora para a sopinha da Leonor.
Como não dá...fico com o texto lindo de morrer.
Beijo

Unknown disse...

A história ´interessante , mas o docinho é ainda mais interesssaaannnteeeee. jinhossssssssss

Helena disse...

Uma receita em 7 actos,onde não falta o prefácio e o epilogo!
Muito bonito o texto e a cor do doce!Cá em casa desaparece num apice....

Ana Rita disse...

Apesar de brincar enquanto escrevias e lias este maravilhoso texto, reconheço a tua imaginação e criatividade. Concordo com a Karla, devias mesmo escrever um livro.

Quanto ao doce devia estar bom, não sei, não cheguei a provar lol lol

Bjs

Isabel Seabra disse...

A minha alma está parva...fiquei sem palavras...!
A inspiração no seu melhor.

micas disse...

lindo,lindo!!!
fiquei maravilhada com este tão belo texto!!
que grande paixão nessas palavras, adorei!!
se não fosse o lado direito do blog estar tão prrenchido,diria k era o must colocá-lo lá
só falta mesmo requeijão ao lado do doce,ihihih!!
beijinhos

anabenfica disse...

Bem...eu nem gosto de compotas, mas depois de tão bela história até que provava só para deixar a abobora ainda mais feliz!!

Parabens pela receita e pelo texto! Adoça a boca e o coração!

Bjitos

Anónimo disse...

Olá
Visito a tasca já à muito tempo e tenho que dizer que aprecio muito as suas iguarias, mas, hoje com este docinho tenho que meter a minha colherada eheheh pois tal como a cenourita adoro a cozinha e sobretudo fazer compotas, experimente para a próxima usar a abóbora porqueira (assim se chama aqui nesta zona) e, antes de a confecionar faça-a em fios isto é passe-a no robot e, então faça o doce, fica divinal, acompanhada com nozes e requeijão. Esta abóbora da fotografia não é a própria para doce é boa para papas e sonhos.
Beijinhos e felicidades,
uma leitora assídua,
Guida

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