Prefácio
Veio de longe, de muito longe… ou talvez não de tão longe assim… afinal de longe, muitas vezes se faz perto!
No campo, foi criada, por entre muitas e diferentes culturas, nascida de uma semente e em terra fértil gerada, no meio de grandes folhas verdes desenvolvida. Cresceu desalmadamente e certo dia, à navalhada lhe foi cortada aquela veia que a prendia à mãe natureza tão amada.
Capitulo I
Partida com destino
A viagem decorreu sem qualquer precalço e, no destino a recepção foi de braços abertos para a receber.
Chegou espantosa, brilhando com todo o seu natural esplendor e chamando a atenção de quem a olhava, mesmo de soslaio, pensando no motivo que levara tão rechonchuda criatura a trocar assim aqueles ares puros, cheiros naturais e paisagens campestres por uma vida na cidade, fechada entre quatro paredes e apenas com a companhia de alguns vasos de plantas oriundas de uma estufa qualquer, uns bichinhos de quatro patas e seus donos tresloucados...
A simpatia e hospitalidade com que fora recebida fez com que de um momento para o outro se sentisse no seu habitat natural, depressa se adaptou ao dia-a-dia daquela gente, se integrou naquela família citadina de gostos rurais.
Capitulo II
Menina, seu nome
Acomodada num cantinho cheio de luz, aconchegado e privilegiado por ser a esplanada de inverno, junto a três irmãs da mesma espécie mas de raça distinta, a Menina depressa se ambientou e foi toda ouvidos para as Chilas que ficaram enciumadas com a nova residente. Poucas horas depois e com algum atrevimento, já as outras lhe chamavam de prima e desgarravam as suas ainda curtas e sinuosas vidas, qual delas a mais ousada, como gralhas e bimbas de alta sociedade. Pintaram-lhe um cenário de luxúria e poder, que apesar de não existir naquele local, fez com que ela se sentisse fragilizada e se mantivesse um pouco distante das outras, calada, atenta, observadora. A cada dia que passava afirmava-se com toda a notoriedade mas sem qualquer convicção, da sua beleza interior, do seu substracto, que às outras não passava de burrice e pura ignorância. Mas, é pela simplicidade que tudo tem mais valor, e a Menina ganhou tudo por isso mesmo.
Capítulo III
Confidente
Viveu meses naquele local, acarinhada por todos os residentes e apreciada pelos visitantes. Ouviu conversas, desabafos, choros e grandes gargalhadas, foi fiel confidente de todos os que naquelas cadeiras ao lado se sentavam e seus corações abriram, chorou com eles, sorriu, apreciou as mais variadas brincadeiras sempre com o respeito que cada um lhe conferiu. Presença assídua em festas, convívios e patuscadas e, até pousou em sessões fotográficas… De quando em vez pedia que a trocassem de sítio, ora mais para a esquerda, ora mais para a direita, mas sempre com a mesma perspectiva e campo de visão. Nunca nada lhe passava despercebido e estava sempre atenta a tudo o que a rodeava. Pela forma arredondada e sua cor de pele ligeiramente alaranjada, destacava-se sempre pelo meio de todo o verde que a rodeava. Manifestava frequentemente e com ligeireza o seu agrado por estar onde estava e pedia com toda a sinceridade:
- Quando sair daqui quero a todos proporcionar o melhor que eu puder dar!
Capítulo IV
Decisão
O tempo foi passando e lá se ía destinando a melhor forma de satisfazer a vontade da Menina. Ela sabia que a sua duração em perfeita saúde não era longa, mas mesmo assim aguentou e muito tempo, mais do que alguém pudesse esperar. Foram-lhe feitas várias propostas, afinal ela merecia escolher…
- Que tal, para uma sopa?
- Um puré?
- Congelador?
- Umas quaisquer misturadas?
Engelhava sempre o nariz, e…
- Desde que sirva de alimento… eu fico satisfeita, mas… quem me tem acompanhado nesta jornada merece mais, merece melhor…
- Mas mais e melhor, como Abóbora Menina?
- Gostaria de adoçar todas as vossas bocas…
- Adoçar? Estás a sugerir um doce?
- Sim! Sim! Bem docinho e de preferência com umas nozes! Acho que fica fantástico e todos vão adorar!
- Oh Aboborinha Menina… és mesmo um encanto! Será feita a tua vontade!
Capítulo V
Chegou a hora
Uns dias depois, tudo preparado para a confecção do doce que a Menina tanto pediu e que de todo foi do agrado de quem a acolheu. Em cima da bancada da cozinha estavam todos os instrumentos necessários, a tábua de cozinha, a faca, os pacotes de açúcar amarelo, o frasco da canela em pau, a taça com as nozes descascadas e partidas… tudo devidamente preparado para a confecção do seu desejo mor…
Capítulo VI
A receita
DOCE DE ABÓBORA COM NOZES
2,5 kg abóbora limpa de pevides e cascas e cortada em cubos
2,5 kg açúcar louro (amarelo)
3 paus de canela
Deitou-se a abóbora na panela, por cima o açúcar e os paus de canela. Envolveu-se tudo muito bem com a ajuda da colher de pau e deixou-se levantar fervura. O açúcar derreteu, a abóbora largou toda a sua humidade e um molhinho grosso e escurinho se formou. Foi-se mexendo de vez em quando e o lume esteve baixo durante muito tempo, cozendo o preparado, sem pressas, e mexendo… mexendo… mexendo. A colher de pau entrava frequentemente na panela, para que aquela gostosura não se pegasse no seu fundo e saía lânguida e forrada daquela mistura quase explosiva de doçura. O bico do fogão apagou-se, a panela repousou em cima da bancada protegida por uma base para quentes. Retiraram-se os paus de canela e a varinha mágica deu o toque final, triturou ligeiramente os cubos já meio desfeitos… juntaram-se as nozes partidas miudinhas e voltou ao lume por mais uns minutitos para que ficasse mais homogénea aquela mistura tão perfeita. Deixou-se arrefecer e frascos de vidro já esterilizados à espera de tão delicioso conteúdo!
CapítuloVII
A prova
Segui-se a prova de tão gracioso manjar, tostinhas e fatias de pão caseiro receberam aquela maravilha… barrada com delicadeza formando picos, pilhas, morros e montes…
Doce, doce mesmo, cremoso, aveludado e o sabor da noz a sobressair… simplesmente delicioso!
Simples, inteligente e humilde, o reinado desta Abóbora Menina na Tasca, deu-lhe conhecimento suficiente de como agradar e bem a todos os que a frequentam e dela usufruem!
Fim
13 comentários:
Eu não sei o que está mais divino!
se o texto...se o doce!
Ou melhor!
Tu é um génio, quando for grande, quero ser como tu!!!
Depois deixo-te dar uma voltinha na minha lambreta...
beijo
CONCORDO COM A ABOBORA, ESTÃO OS DOIS DIVINOS... COISA DE INSPIRAÇÃO BEIJO E BOM FINAL DE SEMANA
Palmas clap clap :)
Fantástico o texto e o doce!!!
Oh minha linda Cenourinha....tens MESMO de escrever um livro....fabuloso....
beijinhos
Que texto maravilhoso, já o doce nem se fala deve ter ficada melhor que uma maravilha.
Então a decoração tem tudo a ver com a tasca é só cenourinhas.
Beijinhos.
como acertei devia ter direito a um frasquinho de doce e uns quadradinhos de abobora para a sopinha da Leonor.
Como não dá...fico com o texto lindo de morrer.
Beijo
A história ´interessante , mas o docinho é ainda mais interesssaaannnteeeee. jinhossssssssss
Uma receita em 7 actos,onde não falta o prefácio e o epilogo!
Muito bonito o texto e a cor do doce!Cá em casa desaparece num apice....
Apesar de brincar enquanto escrevias e lias este maravilhoso texto, reconheço a tua imaginação e criatividade. Concordo com a Karla, devias mesmo escrever um livro.
Quanto ao doce devia estar bom, não sei, não cheguei a provar lol lol
Bjs
A minha alma está parva...fiquei sem palavras...!
A inspiração no seu melhor.
lindo,lindo!!!
fiquei maravilhada com este tão belo texto!!
que grande paixão nessas palavras, adorei!!
se não fosse o lado direito do blog estar tão prrenchido,diria k era o must colocá-lo lá
só falta mesmo requeijão ao lado do doce,ihihih!!
beijinhos
Bem...eu nem gosto de compotas, mas depois de tão bela história até que provava só para deixar a abobora ainda mais feliz!!
Parabens pela receita e pelo texto! Adoça a boca e o coração!
Bjitos
Olá
Visito a tasca já à muito tempo e tenho que dizer que aprecio muito as suas iguarias, mas, hoje com este docinho tenho que meter a minha colherada eheheh pois tal como a cenourita adoro a cozinha e sobretudo fazer compotas, experimente para a próxima usar a abóbora porqueira (assim se chama aqui nesta zona) e, antes de a confecionar faça-a em fios isto é passe-a no robot e, então faça o doce, fica divinal, acompanhada com nozes e requeijão. Esta abóbora da fotografia não é a própria para doce é boa para papas e sonhos.
Beijinhos e felicidades,
uma leitora assídua,
Guida
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