Cruzei-me com este livro algures numa livraria. Como faço sempre, li a sinopse, desfolhei e li algumas passagens. Logo ali me senti presa ao romance que aborda a vida de quatro casais, as suas experiências nas relações amorosas, os sonhos que se revelam numa realidade bem diferente, a frustração que se instala nas suas vidas, as voltas que dão no sentido de se sentirem amados e desejados... enfim, uma realidade descrita em forma de diário e reveladora de cenários familiares que cada vez mais caracterizam uma grande parte da nossa sociedade dos dias de hoje.
Já levava no braço uma boa dose de leitura e, o Diário dos Infiés de João Morgado ficou-me na cabeça. Pouco tempo depois, fui buscá-lo.
Quatro casais, oito personagens e a pergunta que nos assalta quando percebemos o fim: ainda me amas? Não sabem o que os faria felizes, nem se lembram do dia em que sentiram o peso da solidão, em que se amaram ou se desejaram. Hoje, não se reconhecem, não têm coragem para mudar de vida, para assumir o fim e procurar noutro amor o caminho de volta para o compromisso maior: ser feliz. Num diário de emoções íntimas, falam na primeira pessoa do que sentem em relação a si e aos outros. Concluem que, cada um à sua maneira, todos foram infiéis: por pensamentos, actos ou omissões. Com vidas entrelaçadas, cada um descreve no diário a sua viagem pelo mundo do sexo, do desejo, do pudor, do egoísmo, do amor-próprio, do envelhecimento, do sonho, da morte… Enfim, a matéria-prima da qual é feita a existência de gente vulgar. «Sobre nós ninguém escreverá um romance», diz uma das personagens.
Talvez desconhecendo que todos os dias a vida nos ensina o contrário.
«Só gostamos de uma mulher quando gostamos do seu cheiro. Quando tudo nos leva a bebe-la, como um chá quente, excitante, aromático. Se não gostarmos do seu cheiro não conseguimos ama-la, nem na pele nem na alma. Podemos ser amigos, companheiros, nunca amantes. Amar é beber um cheiro. É transporta-lo para dentro de nós»
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«Newton descobriu a Lei da Gravidade quando um corpo de mulher lhe caiu em cima. A maçã foi a desculpa bíblica para o seu pecado original da atracção mútua dos corpos»
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«Sentia as rajadas de água em guerra com as vidraças da janela. E quase podia imaginar o ondular das árvores e a água a escorrer no alcatrão da estrada, como escamas de um peixe negro. Em que pensas? - perguntou-me. Em como esta chuva inesperada deve ter apanhado de surpresa muita gente sem chapéu…respondi! Foi a coisa mais idiota que podia ter dito a uma mulher, no reencontro de uma paixão de vinte ano»
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«Estou certo de que te amo e temos tudo o que sonhámos para ser felizes, excepto o facto de sermos uns tristes!»
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«A tentação de eternizar é infernizar. Pelo contrário, o efémero pode-se tornar perene, desde que vivido no tempo justo. Até a Bíblia tem um número limitado de páginas e não deixa de ser um livro sagrado»
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«Abomino a morte e o sofrimento, como se fosse a baba do demónio a cair-me no rosto. Gosto de pensar que sou mais que um corpo…»
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«A vida é tão efémera que só o desperdício da felicidade pode ser considerado um pecado sem perdão»
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in Diário dos Infiéis
Sobre o Autor
João Morgado nasceu na Covilhã. Formado em Comunicação pela Universidade da Beira Interior, fez um mestrado na Universidade Pontifícia de Salamanca e trabalhou alguns anos como jornalista. Actualmente, escreve crónicas de opinião, colabora com o semanário SOL, é director do site Kaminhos.com, formador e consultor de comunicação e imagem no meio empresarial e político. É autor de Covilhã e A Estrela, Covilhã e a Imprensa – Memórias do Primeiro Século – 1864/1964 e da Colectânea de Poesia Contemporânea da Beira Interior. Diário dos Infiéis é o seu primeiro romance.
A Minha Opinião
Gostei muito de ler este livro. Apreciei o género da escrita e a forma como as histórias de várias vidas é contada, numa espécie de relato individual de cada personagem. Um autor nacional que me cativou e que vou esperar por novidades suas, nas prateleiras das livrarias!
9 comentários:
Agradou-me o que li. Acho que vou esperar que "alguém" mo empreste..... Bjs Guida
Sinceramente eu não gosto desse livro, acho que se o lesse não passaria da segunda pagina. mas neste momento ando a ler pedaços de ternura, este sim está a ser lindissimo,tem uma historia capaz de cativar qualquer pessoa. estou a gostar muito desta leitura.
Guida
Está combinado! Como, quando e onde? Não o vais querer levar para ler em Marte pois não?
Gatinhafofa
O tema do livro é delicado e imagino que para algumas pesoas não seja de fácil leitura, mas acredita que é interessante. É uma dura realidade. Não conheço o que estás a ler. Boa leitura! :)
E se fosse para levar para Marte qual era o problema? Não ias também? Por isso não perdias o TEU livro de vista.... Bjs e bom domingo Guida
Guida
O problema é que não sabemos se em Marte existem condições de leitura e também não sabemos quais a leis da gravidade marcianas... o meu livro podia ir parar algures ao espaço e depois, hein?!
É claro que te empresto o livro, mas para leres cá na terra... ;)
Beijocas e boa semana***
Gostos literários não se podem discutir...
Depois dos parágrafos que li e do que já tinha lido no FB, não resisti e comprei-o.
É preciso ter coragem para escrever sobre alguns temas.
beijos e boas leituras
Maria Mendonça
Bem vinda à Tasca!
É verdade, gostos literários não podem mesmo ser discutidos.
Coragem para escrever e para os ler também... afinal neste e noutros livros há imensos assuntos que tocam a quem os lê.
Boas leituras também para ti e aparece sempre.
Beijocas***
Nunca li, mas deve ser interessante ;)
Obrigado pela referência e destaque do meu livro. Fico feliz porque não lhe foi indiferente... um beijo (João Morgado)
www.joaomorgado.net
facebook: (joão Morgado (Diário dos Infiéis)
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